}
" O DIÁLOGO. É O ELO QUE FALTA "
Mostrando postagens com marcador ANTROPOLOGIA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ANTROPOLOGIA. Mostrar todas as postagens

I ENCONTRO DE NEGRAS E NEGROS DA UESC (ENEGRU)

I ENEGRU- Encontro de Estudantes Negras e Negros da UESC.

“Interseccionalidades: Vidas negras importam!”






No dia 26 de setembro o DCE UESC realizará o “I ENEGRU – Encontro de Negras e Negros da UESC”, tendo como tema “Interseccionalidades: Vidas negras importam!”.
A interseccionalidade, termo cunhado por feministas negras, é definido como “formas de capturar as consequências da interação entre duas ou mais formas de subordinação” (CRENSHAW, 2002). A implicação de diferentes tipos de dominação ou opressão em um indivíduo faz com que cada experiência de vida seja única, de forma que não se pode pensar em combater um único eixo de subordinação a fim de superar a situação em que este se encontra. A interseccionalidade surge como um caminho para pensar a alteridade e a invisibilidade que por vezes o debate centrado em apenas em um eixo pode trazer.
As mesas principais do encontro serão realizadas no auditório de direito e as salas dos grupos de discussão serão informadas por e-mail aos participantes e na pagina do DCE no Facebook (facebook/dceuesc).
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site da UESC e no link abaixo:




Aportes para implementação das leis 10.639/03 e 11.645/08- UESC: um relato de experiências





Resumo: O presente trabalho caracteriza-se pela apresentação e relato das experiências dos Bolsistas de Iniciação à Docência do Projeto de Ensino “Aportes para implementação das Leis 10. 639/03 e 11. 645/08”, que se propôs a criar e consolidar canais de diálogos entre comunidades indígenas e afro-brasileiras, a produção acadêmica da UESC e as Escolas de Educação Básica. Ele é um desdobramento do Projeto de Extensão, Interlocução entre comunidades indígenas e afro-brasileiras, a produção acadêmica da UESC e as Escolas de ensino Médio e Fundamental financiado pela própria UESC e, que vem sendo desenvolvido desde 2008 nos municípios de Ilhéus e Itacaré, com comunidades Afro-Brasileiras, o Povo Tupinambá de Olivença e o Colégio Estadual Aurelino Leal.

Palavras chave: Afro-brasileiros, aportes, diálogo, experiências, indígena.
Áreas temáticas: Educação, cultura e políticas públicas.

O SABER OUVIR: O TAMBOR DO OGÃ.




O SABER OUVIR: O TAMBOR DO OGÃ.
Wagner do Amparo Santana[1]
Flavia Cristina de Mello[2]

Esse texto é fruto de uma pesquisa em andamento sobre a cultura afrobrasileira, realizada por um não inciado na religião do candomblé e iniciante em antropologia, que propõe-se a aprender com a cultura local. Construído na forma de um relato etnográfico sobre o encontro dos Ingomas (Tambores) de Ilhéus, realizado no Terreiro de Matamba Tombeci no dia 23 de março de 2013, aqui pretendemos refletir sobre a figura do Ogã e algumas questões debatidas no evento, como a atual escassez destes especialistas nos terreiros e sobre a possibilidade de profissionalização dos Ogãs.
O Ogã Alabê é (...) “o tocador dos atabaques, os instrumentos de percussão, chamados de rum, rumpi e lé, nos terreiros jeje-nagôs. Ele se submete, também, aos rítuais de consagração e tem a obrigação princicipal de conduzir as festas públicas. O Ogã Alabê deve conhecer praticamente todas as cantigas litúrgicas e é peça fundamental na organização sócio-religiosa de um terreiro. Diz-se, com frequência, que o atabaque é a fala dos orixás, o instrumento principal do seu apelo, o que pode dar uma medida exata dos compromissos e responsabilidades religiosas dos Ogãs Alabê que manipulam esse instrumento de comunicação com o universo sagrado...” (Braga, 2009:82).
O Ogã tem papel central num ritual e sua função remete ao contexto histórico de perseguições contra os terreiros, no qual a figura dos Ogãs revelava-se como intermediadora de conflitos entre o grupo religioso e a sociedade. Em certos momentos históricos, a maioria dos ogãs eram pessoas importantes e de cor branca, que tinham influência na sociedade civil. Mais recentemente, houve uma mudança, e passou-se a escolher “pessoas mais humildes que podem colaborar e participar dos serviços religiosos de maneira mais regular e que já são portadoras de alguma noção do universo sagrado, do andamento de rituais e da própria vida da comunidade como um todo.” (Braga, 2009:44).
Na “religião dos orixás” estabelece-se a noção de família[3], organizada em torno de um antepassado comum, na qual vivos e mortos participam do mesmo axé e da mesma memória coletiva. Isso repercute na função do ogã Alabê, como afirmou o Ogã Gilson Rodrigues Santos, relatando que é “a satisfação de ser aquele que por meio do toque do atabaque influência os Orixás a participarem do Xirê[4] que caracteriza um ogã”. Nessa festa, na qual todos do terreiro estão juntos a celebrar a memória coletiva dos antepassados, é o momento em que o Ogã exerce com plenitude sua função.
É por meio do tambor que a dança flui e exerce seu poder de relação social sobre todos. Ou, como diria Norbert Elias, sua relação de interdependência, na qual não existem só os indivíduos, mas sim a relação entre indivíduos e sociedade, uma relação de complementaridade que repercute em toda a hierarquia do terreiro.
  A eleição e formação do ogã não tem a mesma duração dos que vão receber o orixá, tem como fundamento o saber ouvir os ensinamentos repassados a ele durante sua iniciação. São escolhidos entre os homens participantes dos rituais do terreiro, pela mãe de santo e pela comunidade em geral, durante o xirê.
A profissionalização da função do ogã suscita questões: Se o fazer do ogã é pautado no saber ouvir, em aspectos sagrados e secretos, como propor um curso de formação para ser ogã.Além disso, com a profissionalização, haveria um ruído entre os ogãs que são formados no fazer - ouvir do dia-a-dia, e de outro lado, aquele que formados em cursos.Quem merece mais o título de ogã.
Atinar para essas questões é perceber que a profissionalização da função dos ogãs deve considerar o fato desses comporem um sacerdócio especifico, que está inserida dentro do contexto social de caráter comunitário que difere do tipo de configuração da sociedade capitalista. Delimitar até onde pode o ogã se tornar profissão esta pautada em o que caracteriza a função do ogã no terreiro.No encontro referido, Marinho, um dos membros da organização pondera: " os ogãs estão em falta nos terreiros, é fato, mas deve-se refletir muito sobre a profissionalização da função do ogã, pois a singularidade do mesmo poderia ser afetada."

Referências:
Verger, Pierre. Fatumbi. Orixás: Deuses Orixás na África e no mundo. Editora Corrupio Comércio, 1981.
Braga, Julio. A Cadeira de Ogã e outros ensaios: Editora Pallas, 2009.
Norbert, Elias. A Sociedade dos Indivíduos: Editora Zahar,1994.










[1] Graduando em Ciências Sociais da UESC; wagneramparo@gmail.com
[2] Profa. Dra. de Antropologia DFCH/UESC; flaviacdemello@yahoo.com.br
[3]“O orixá é uma força pura, imaterial, que só se torna perceptível aos seres humanos incorporando-se em um deles. Esse ser escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é chamado seu elégun, aquele que tem o privilégio de ser “montado” por ele. Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar a terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram. (...) A religião dos orixás está ligada à noção de família, uma família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos” (Verger,1981:9).
[4] Xirê é a festa que representa o ápice da comunicação entre o mundo espiritual e mortal.

POVO BRASILEIRO



Quando nos deparamos com a palavra “Povo Brasileiro” somos levados a refletir sobre a palavra identidade. Com efeito, perceba que identidade nacional aqui tem o sentido de recorrer ao discurso de origem cultural essa que será pautada por idéias e princípios valorativos, sobre sua história, sobre o seu fazer/ produzir. Então, como pensar ser “Povo Brasileiro” em meio a discursos colonizadores, eurocêntricos que pautam e dizem que somos subdesenvolvidos, selvagens, frutos de miscigenação racial. Será que ser Povo Brasileiro é entrar numa moldura a cerca do que é ser Brasileiro?
  Os debates sobre o povo brasileiro remontam ao século XIX oriundos de concepções de supervalorização de uma cultura sobre a outra (etnocentrismo) e eurocêntricas, influencia da Europa sobre outros povos de forma política, econômica e social. Essas visões de mundos emolduraram o que seria ser “Povo” Brasileiro. No mesmo século XIX o Brasil começava a vivenciar sua “independência” perante a metrópole portuguesa, então perguntas oriundas do contexto histórico da época foram postas pela classe dominante: “Como lidar com o desenvolvimento local”, visto que, o Brasil agora independente precisava lidar com o ônus e o bônus de ser Estado Nação.
Querendo resolver os problemas do desenvolvimento social pós independência, a classe dominante local usou então idéias eugênicas. A partir do discurso eugênico, a classe dominante do Brasil vai recorrer a estratégias para lidar  com aquilo que eles consideravam como problema social, a questão da miscigenação no Brasil. A classe dominante usará a ideia do embranquecimento racial, do evolucionismo social, querendo comprovar que o problema do não desenvolvimento social Brasileiro estava na miscigenação do povo.
As concepções etnocêntricas, eurocêntricas, evolucionistas sociais, idéias de embraquecimento racial no século XIX até nossos tempos atuais influenciaram e influenciam nosso modo de visualizarmos, de pensarmos nossa cultura, de pensarmos sobre nossa identidade nacional. Pois recorrermos sempre à lente do outro, desse que se diz civilizado. O nosso olhar, ou nossa lente estar pautada em hábitos sociais emoldurados, embasados no modo europeu de ser.
Contudo, atinar para o que é ser Brasileiro requer de nós mesmos, a compreensão  que somos  feitos  por um amalgama de cultural, de contato entre modo de vidas diferentes, de cosmogonias diferentes, de visão de mundo diferentes, de grupos étnicos de dominantes e dominados, portugueses, índios, negros, sociedades que originaram o que seria o Brasil, um caldeirão  culturais, um continente de diversidade social, em que o fazer produzir remete a uma pluralidade de ser. Com efeito, ser Brasileiro é atinar para a realidade como diria Gilberto Freire da Casa Grande e Senzala, relação entre brancos e negros que originou espaço de confluência genotípica e fenotípica entre grupos étnicos tão diferentes, mas que repercutiu no modo de agir de pensar, no falar daquilo que poderíamos intitular o que é Povo brasileiro.
 Seja nas ciências sociais, ou na literatura, temos uma miríade de pontos de vistas sobre a formação do conceito do que é o Povo brasileiro. Mas todos são unânimes que somos frutos de luta, de grupos minoritários, esses que perderam suas terras, sua língua, dizimados pelas ideologias salvacionistas dos ditos civilizados, colonizadores.
Mas é importante salientar que o colonizador (Português) no Brasil se mesclou, nessa nova nação, contribuindo com seus genes, com seus valores, crenças, regras, mas ao mesmo tempo colaborou para o discurso de superioridade racial, para as construções de cortiços, favelas, de periferias, tudo reflexo do querer tratar o progresso urbano por meio da concepção superior da classe dominante com seu discurso eurocêntrico.
Assim ser Brasileiro de um lado é perceber-se sendo esse “povo” como um caldeirão de culturas, de valores e crenças, mas por outro é um caldeirão continental dividido por concepções colonizadoras, que se fazem presentes nos nossos discursos de progresso, de desenvolvimento, nos discursos democráticos, mas que reproduzem relação de produção desigual, de violência contra negro, contra índio, contra esses que somos nós.

           
    


        

Topo